sexta-feira, 19 de junho de 2009

A chave para a transformação: Entendes tu o que lês?




Josimar Salum – jsalum@greaterrevival.com



O grande desafio que cada leitor da Bíblia enfrenta está contido na pergunta clássica que Filipe fez ao eunuco, ao aproximar-se de sua carruagem e ao ouví-lo ler o profeta Isaías: “O senhor entende o que está lendo?” (At. 8:30)

Em toda a história da igreja, as leituras e interpretações do texto bíblico, filtradas pelas pré-concepções estabelecidas da própria história e tradição, das doutrinas e dos dogmas do grupo em que se está inserido, da inevitável cosmovisão das experiências místicas, da espiritualidade emocional e mesmo da própria predisposição psicológica geraram o que somos, produziram nossa existência e definiram o que é hoje o modus vivendi da “Igreja”.

A interpretação correta do texto e nossa equivalente correspondência de fé são reveladas pelo relacionamento que temos com Deus e com o nosso próximo, pelas expressões das obras genuinamente bíblicas que desenvolvemos, pelos comportamentos gerados em Santidade que vivenciamos e pela missão que cumprimos no dia a dia como discípulos de Jesus.

Contudo somos desafiados pelo Espírito de Deus que nos guia a toda a Verdade a responder a mesma pergunta que Filipe fez ao eunuco, sem necessariamente precisarmos da história, da tradição, das doutrinas e dos dogmas, da cosmovisão e experiência místicas, dos condicionamentos espiritualistas e psicológicos do passado e nem mesmo de alguém que nos explique o texto com exclusividade. Precisamos questionar e descobrir se o que sabemos hoje é verdadeiramente bíblico e se o que cremos é a Verdade. Precisamos nos arrepender, que é claramente experimentar uma transformação da mente, do pensamento e dos conceitos.

É muito frustrante descobrir somente adiante que ainda estávamos ligados a fábulas, que ainda compartilhávamos de crendices tolas, que por toda uma vida cremos, pregamos e ensinamos mentiras como sendo verdades, invenções como sendo revelações e novidades quando de fatos eram mímicas de alguém na história.

Já parei para pensar seriamente se realmente o que cria é a Verdade sem ter tido problemas em descobrir que de fato muito do que cria era fantasia, mito e mentira. Já parei para meditar seriamente se o que confiava como Verdade era verdadeiramente a Verdade sem ter tido receio de fazendo esse exercício estaria me desconectando de Jesus.

É impossível afastar-se de Jesus quando se busca a Verdade. É a busca da Verdade que nos aproxima de Jesus cada vez mais, pensamento a pensamento, passo a passo. Precisamos desesperadamente desejar a Verdade, conhecer a Verdade, experimentar a Verdade se queremos ser servos de Jesus, servos da Verdade, escravos da verdadeira Liberdade. A criatividade tem sido mutilada em nosso meio quando muitos líderes têm medo de responder questões de seus liderados ou de serem arguidos por eles na sua fé.

A criatividade é desincentivada quando não se deseja experimentar mudanças. Comumente muda-se a decoração do ambiente e até o discurso, mas não se muda de fato nada. É somente isto, o máximo que a maquiagem consegue produzir. É a constatação por cada um de nós da realidade na expressão de W. L. Bateman que intensifica o tamanho da burrice: “Se continuar fazendo o que você tem sempre feito, você continuará obtendo o que sempre tem obtido.”

Porém, nas questões de transformação, a Palavra de Deus é clara: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12:2, NVI)

O resultado da transformação é “sermos capazes de experimentar e comprovar a vontade de Deus”. O texto “para sermos capazes” significa simplesmente que precisamos de uma capacitação para experimentarmos a vontade de Deus. Revela que a vontade de Deus não pode ser experimentada por todos. Assegura que a Vontade de Deus somente é experimentada por aquele que passou por uma metamorfose ou uma transformação através da renovação de sua mente, de seu pensamento, de como entende as coisas intelegivelmente, ou seja, que tem a compreensão racional inteligente da Vontade de Deus.

Algumas frases que destroem a criatividade na igreja ou em qualquer situação revelam a aversão a mudanças:

1) “Este não é o modo com que fazemos as coisas aqui”.

É a expresão do vicío ao continuísmo, a fazer as mesmas coisas como sempre. Assim o mesmo “tipo e liturgia de culto” que se pratica hoje tem sido praticado em muitas congregações a séculos, por exemplo. Já parou para pensar se realmente o programa do culto é de fato o que Deus se agrada? Todos os cultos de todas “as igrejas” são os mesmos em quaisquer lugares. Esta uniformidade tem origem na importação de um “Evangelho” empacotado. É a religião estabelecida repetitiva desde Martinho Lutero, não questionada, porque o “programata” (programa) não pode ser mudado. A forma tornou-se a “igreja” como o templo tornou-se a “igreja”. E estes conceitos extrabíblicos tornaram-se a “verdade” e tantos outros que não passam de tradições que precisam ser questionados para que experimentemos a perfeita vontade de Deus. Assim é que nem tudo o que temos feito até aqui é verdadeiramente de Deus.

2) “Já tentamos uma vez, não vai funcionar.”

É o compromisso com o fracasso. Nem vale a pena experimentar. É melhor ficar como estamos, ironicamente. O hino tradicional “eu venho como estou” não nos ensinou que deveríamos continuar sendo o que eramos. O Evangelho é inovador, no nome inclusive. “Eis que faço novas todas as coisas” é o processo eterno de Deus. O Espírito sempre se move sobre as águas. Nunca conseguiremos experimentar tudo o que é de Deus. O Espírito Santo sempre terá alguma coisa nova a nos ensinar.

3) “Precisamos seguir a Bíblia, você sabe.”

É claro que precisamos seguir a Bíblia, mas que interpretação da Bíblia e de quem? Já parou para pensar porque mais de 90% dos membros das igrejas nunca fizeram em toda vida um discípulo sequer para Jesus? Porque os resultados que temos obtido são totalmente relacionandos ao modo como agimos. Se continuarmos fazendo o que estamos fazendo, vamos continuar alcançando os mesmos resultados. É a estorinha do maquinista que em cada estação descia dá máquina para bater com um martelo de borracha as rodas do trem, porque desde o primeiro dia de trabalho lhe instruíram que deveria fazer assim. Até que um dia, um menino, em uma das paradas, perguntou ao maquinista a pergunta que ele nunca tinha feito: “Seu maquinista, porque o senhor está batendo com este martelo de borracha as rodas do trem?” O maquinista parou, pensou e intrigadamente respondeu: “Sabe que eu não sei.”

4) “Vou orar sobre o assunto”.

Não obstante tudo o que fazemos deve ser acompanhado de oração e especialmente na dependência total de Deus, uma desculpa clássica para evitar qualquer mudança é dizer que vai se orar sobre o assunto quando de fato não vai orar nunca.

5) “Vou perguntar ao pastor.”

O governo da maioria das congregações está centralizado no “pastor.” Nenhuma mudança ocorrerá na maioria absoluta das igrejas se o pastor não experimentar primeiro a transformação. O princípio de autoridade deve ser preservado porque é bíblico, mas toda autoridade que impede a operação criativa do Espírito de Deus numa congregação é antibíblica e abusiva. E toda autoridade para ser genuína tem que ser bíblica e o modelo protestante é a mimese do modelo católico onde o sacerdote exerce “todo o ministério” usurpando a atuação do Corpo de Cristo. Todo salvo é sacerdote e rei do Altíssimo e tão ungido quanto o seu líder. O ensino do sacerdócio de todo o cristão deve ser ministrado em contraste com a prática católica e protestante. Biblicamente ninguém é representante exclusivo de Deus na terra; todos os crentes são embaixadores de Deus.

6) “Não estou certo de que isto está no original grego”.

Uma das maiores desculpas para combater algo que não aceitamos é apelarmos para uma fonte que nem conhecemos bem e que pessoas ao nosso redor não têm acesso.

7) “Estou certo de que isto vai ofender alguns membros da igreja”.

Toda mudança e toda transformação vão ofender pessoas, especialmente aquelas que estão comprometidas e dependem da estrutura vigente. Mesmo nós temos que estar dispostos a renunciar muitas coisas que vão nos custar caro se desejamos experimentar e comprovar a perfeita, boa e agradável vontade de Deus.

8 ) “Nós temos que seguir as regras”.

Todo sistema quando foi estabelecido gerou regras para defender e preservar a sua existência. As regras que são invocadas para impedir qualquer iniciativa de mudança funcionam por “amor” à estrutura que se tornou mais importante que as pessoas. É assim que se invoca o amor à denominação, o amor à igreja (no sentido de organização) e à fidelidade absoluta às confissões de fé, aos estatutos e às constituições sem levar em conta o bem comum das pessoas e nem à Palavra de Deus. É anticristo toda estrutura que é mais importante que as pessoas. Não me refiro aqui à figura escatológica, mas ao conceito de ser contra Cristo. Somente a autoridade da Palavra de Deus é absoluta.

9) “Isto é só sua opinião.”

Mata-se a criatividade quando o indivíduo não pode se expressar. A pessoa é tão importante para Jesus que Ele ouve suas orações individualmente. “Ninguém vem ao Pai senão por Mim” ecoa como abertura total dos portões dos Céus para todo Aquele que invoca a Deus em Nome de Jesus. Aliás, o próprio Pai se achega a quem se achega a Ele em Nome de Jesus. Todo aquele que é ouvido nos céus tem o direito de ser ouvido na terra por quem quer que seja. Deus se revela através de qualquer um de Seus filhos e não exclusivamente através dos pastores, apóstolos, evangelistas. A única exclusividade no universo está reservada a Jesus Cristo.

10) “Provavelmente vai custar muito.”

Esta é a frase que mais causou o seputalmento de sonhos, idéias e projetos em todas as épocas. A provisão de Deus já está disponível no mesmo ambiente onde Suas ideias, projetos e sonhos foram gerados. Deus sempre começa com pessoas. Quando criou o universo e plantou o Jardim do Eden, Deus tinha em mente o homem e a mulher, assim sendo Ele já os tinham criados. A provisão de Deus é liberada a cada passo de obediência que se dá. Deus nunca libera todos os recursos de uma vez, Ele os têm estocados e os libera na medida da nossa caminhada.

Todo ser humano nasce millionário. O custo para manter alguém mesmo antes de seu nascimento até a sua morte é altíssimo. Alguns custarão em recursos para se manterem ao longo de sua vida $1.000.000.00; outros $2.000.000,00, outros $5.000.000.00. Para com cada um de nós o custo é diferente para suprir comida, água, moradia, saúde, etc, mas será sempre enorme e é uma minoria que nasce tendo a sua disposição todos estes recursos de uma vez, ou seja, não recebemos este dinheiro quando nascemos, mas estamos garantidos que teremos todos estes recursos ao completarmos 70 anos, cobrindo tudo o que consumiremos em toda vida.

Por isto Jesus disse: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça, e todas as coisas serão acrescentadas.” Todas estas coisas já são dadas a todos. De fato o que Ele queria mostrar mesmo é que o que nos faltava é o Reino!

O conceito mais básico que precisa operar uma transformação em nosso modo de pensar que não foi percebido ainda pela nossa leitura do texto bíblico mesmo depois de muitos anos é que todos nós somos chamados ao ministério de tempo integral. A maioria das vezes senão toda vez que o Novo Testamento usa o termo “ministro” está se referindo individualmente a todos os salvos, do mesmo modo que usa o termo “discípulo.” Não existe esta divisão religiosa e herética entre “clero e leigo”. Todos os salvos são sacerdotes e ministros de Deus. O segundo conceito que precisa ser entendido, assimilado e praticado por cada um dos ministros de Cristo, ou seja, por cada um dos salvos, é que a transformação não ocorre na “igreja”, mas no local de trabalho ou no mercado de trabalho. A Igreja é a reunião dos salvos.

De fato, é contundente falar de Igreja e reunião, pois é a mesma coisa. Somente os santos se reunem em Igreja. É na vida cotidiana que cada um dos salvos vai proclamar o Evangelho do Reino, com sua vida de testemunho e suas palavras, vai orar pelos enfermos, expulsar os demônios, exercer os seus dons e desenvolver seus talentos para a Glória de Deus. Mais de 95% do que denominamos ministério de Jesus foi desenvolvido nas ruas, nas casas, nas praças, no mercado de trabalho. Mais de 95% do que reconhecemos como ministério dos apóstolos foi realizado no mercado de trabalho. Todos os discípulos de Jesus até hoje vivem suas vidas 95% no mercado de trabalho e no mercado de trabalho são agentes de transformação do Reino. Os outros 5% é reservado para quando se reunem em Igreja.

O terceiro conceito que precisa ser entendido e compreendido é que o plano de Deus é para que Seus filhos invistam no Seu Reino pela transferência de riquezas produzida por seus negócios no mercado de trabalho. “A riqueza do ímpio depositada para o justo” (Pv. 13:22) não cairá do céu, nem será recebida como um passe de mágica pela recitação de “mantras evangélicos” e declarações de tomar posse, proclamar, decretar, etc, mas pela conquista através do esforço e do trabalho dos salvos, com inteligência e sabedoria.

Desde a construção do Tabernáculo passando pela construção do Templo de Salomão e a reconstrução do Templo e de Jerusalém nos tempos de Esdras e Neemias até no Novo Testamento, o modelo de Deus para financiar Sua obra tem sido através do Mercado de Trabalho. E são os discípulos de Jesus que entendem esta Verdade que mais ganham outros discípulos para o Reino, pois Deus os usa até muito mais do que usa os que são considerados “sacerdotes.”

E é assim que em todo o mundo um “novo modelo de igreja” está surgindo nas empresas, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades, nos campos, em todas as esferas da sociedade operando uma transformação nas estruturas das sociedades e transformando nações em toda a Terra até que Deus “envie o Cristo, que dantes vos foi indicado, Jesus, ao qual convém que o céu receba até o tempo da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca dos Seus santos profetas, desde o princípio”. (At. 3:21-21)

Nota: Este artigo foi inspirado em parte em uma palestra ministrada por Ed Silvoso – www.harvestevan.org

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